Em 1991, decidi passar para os quadrinhos um tema que sempre me fascinou: o insólito, o desconhecido, o sobrenatural. Ovnis, civilizações perdidas e coisas do gênero. Para os céticos, de qualquer forma, o tema garante a dose necessária de fantasia e aventura para que se tenha uma boa trama.

Assim, criei algumas histórias sobre dois jovens repórteres de uma revista sobre o assunto : Hugo, um rapaz sério e dedicado ao que fazia, e Caio, um rapaz nem tão sério e nem tão dedicado... Foram cinco histórias entre 91/92. Mas, fazendo uma autocrítica, eram histórias... vazias! Eu sentia, faltava algo. O traço ainda meio primário não colaborava.

Já em 92, uma nova história: "O Vale das Sete Mortes". Para dar um charme ao roteiro, quis colocar um personagem diferente, para atazanar os jovens. Assim surgiu Lucas, o tio-tataravô de Caio, com 199 anos de vida. Marginal, vigarista, conhece o mundo todo e não revela seu segredo de longevidade a ninguém.

lucas03.jpg (42553 bytes)
fogo.jpg (17621 bytes)

A intenção era fazer de Lucas quase um vilão, mas sua simpatia e malandragem era tanta já desde o 1o quadrinho, que ele roubou a cena. Até o final da história, Caio já foi para segundo plano, enquanto Hugo quase sumiu. É a falta de domínio que o autor tem sobre seus personagens : Hugo, que foi criado para ser o tradicional mocinho, só "sobreviveu" a mais três histórias, já deslocado. Caio ficou mais responsável, e Lucas já roubou a cena desde o início.

Por que os vilões e anti-heróis exercem tanto fascínio nas pessoas ? Tenho uma tese a respeito: estes, ao contrário dos heróis, são imprevisíveis ! Um "Super- Homem", por exemplo, ao prender um ladrão de bancos, não pensará duas vezes: depois de prender o bandido, devolverá todo o dinheiro roubado, pedindo desculpas por não ter agido antes. E se esse dinheiro fosse parar na mão de alguém de caráter duvidoso? Alguém mais... humano? Qual seria a atitude deste?

Creio que esteja aí a "simpatia" de Lucas. Ele não hesita em aplicar algum trambique, e até se diverte passando seu sobrinho-tataraneto Caio pra trás. Apesar de tudo, tem seus princípios e não abre mão destes. A não ser que lhe convenha!